“O cochilo de Deus” propõe uma possibilidade utópica àquilo para o qual não há resposta: Se fomos criados à imagem e semelhança de Deus, por que somos seres tão imperfeitos?

Em sua nova obra, O cochilo de Deus (Ed. Faria e Silva), Raïssa Lettiére nos convida a uma profunda reflexão por meio de uma narrativa ficcional que entrelaça vários temas existenciais. Com uma trama instigante, a autora provoca o leitor a refletir a respeito de questões complexas sobre o mistério que permeia todas as coisas, sobre o bem e o mal, sobre nossas escolhas e nossa desenvoltura como seres humanos, enquanto constrói um cenário em que o vazio espiritual e o sofrimento humano ganham contornos quase palpáveis.

O romance atravessa séculos e reúne personagens de diferentes épocas, todos conectados de maneiras misteriosas e, às vezes, inesperadas. Em um movimento dinâmico, permeado de ciladas e enigmas, o texto se desenvolve quase que de forma própria. Cada vida presente no livro carrega segredos que cabem ao leitor descobrir à medida que a leitura evolui, até o momento em que um elemento misterioso se faz portador da revelação de uma possível justificativa para a questão presente no início, que é a estrutura temática da obra: Por que a humanidade ainda não deu certo? É isso que os personagens demonstram com seus dramas e assombros após o descanso de Deus.

Afinal de contas, o que uma senhora rabugenta tem a ver com uma criança colocada em uma gaiola? Que caminhos levam uma filha, que sai em busca do pai pelo deserto, a se deparar tanto com a violência quanto com a poesia? Qual a razão de um romancista de folhetins não encontrar um final feliz para seus protagonistas? Como o acaso pode aprisionar a vida de um motorista de ônibus a duas crianças que ainda não nasceram? E se, em meio a tudo isso, há um elemento que apenas observa os acontecimentos?

A narrativa impressa em “O cochilo de Deus” se desenrola com uma escrita poética e densa e propõe uma reflexão sobre temas como o significado da vida, o livre-arbítrio, o acaso e o modo de atuarmos quando não há um plano predestinado a ser seguido.

“O cochilo de Deus” é uma obra que transita entre o real e a metafísica e desafia o leitor a revisar as histórias como protagonista da própria existência. Raïssa Lettiére entrega, mais uma vez, um trabalho que não apenas entretém, mas convida a uma imersão profunda por meio de uma série de questões universais.