Nova montagem de “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant” está em cartaz no teatro Cacilda Becker, em São Paulo
“As Lágrimas Amargas de Petra von Kant” é um filme clássico alemão, de 1972, de Rainer Werner Fassbinder, baseado em sua peça homônima. A nova montagem brasileira, dirigida por Bete Coelho e Gabriel Fernandes conta com tradução direta do original em alemão feita por Marcos Renaux e reafirma os três poderes universais: o feminino, o amor e a arte teatral.
Essas três imensas forças estão evidentes na performance do elenco exclusivamente feminino, que dá vida a Petra (Bete Coelho) e sua assistente (Lindsay Castro Lima), amiga (Clarissa Kiste), amante (Luiza Curvo), mãe (Renata Melo) e filha (Miranda Diamant). Mulheres de personalidades fortes que, mesmo tão diferentes entre si, compartilham a busca incessante pelo amor e a cruel incompetência em lidar com este sentimento, invariavelmente não correspondido ou desvirtuado pelas implacáveis relações de poder. Cada uma com idades, aspirações, níveis culturais ou condições sociais diferentes, mas com algo em comum: a necessidade de aceitar e ser aceita pela outra, até mesmo se para isso for preciso sacrificar o amor próprio.
“Mesmo mais de cinco décadas após sua estreia, um texto lapidado para o teatro, que ultrapassa as marcas setentistas do ótimo filme e continua muito atual. As louváveis intenções feministas e provocações políticas do autor à época continuam relevantes nos dias de hoje, mas é o desconforto decorrente das relações humanas e suas frustrações que funciona como principal ponto de identificação com o espectador”, reflete Bete Coelho.
Em três momentos de transição entreatos, o público ouvirá marcantes canções de filmes de Fassbinder interpretadas ao vivo pela cantora Laís Lacôrte e o piano de Fábio Sá: Lili Marleen (por Hanna Schygulla, no filme Lili Marlene), Memories are Made of This (por Rosel Zech, no filme O Desespero de Veronika Voss) e Capri Fischer (por Barbara Sukowa, no filme Lola).
“Como poucos em sua época, Fassbinder soube tão bem usar o teatro e o cinema para provocar o espectador abusando da carga emocional, com interpretações precisas e ambientes enxutos, frios até. Temas ousados apresentados com altas doses de tensão emocional e, ao mesmo tempo, um distanciamento que deixa evidente a intenção de posicionar o público como observador e crítico do comportamento humano, como sugeria Brecht”, afirma o diretor Gabriel Fernandes.
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